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domingo, 13 de maio de 2007

12ª Conferência do Instituto Mente e Vida (Índia,2004)

Transcrevo, abaixo, a versão provisória do resumo de abertura da 12ª Conferência do Instituto Mente e Vida (Mind and Life Institute) e da primeira conferência apresentada no evento científico realizado na Índia, em 2004, sobre a temática Neuroplasticidade. Um dos objetivos do encontro foi o de conciliar o conhecimento oriental sobre as práticas da meditação com os avanços das pesquisas das ciências cognitivas Para ler o texto original, consulte, por favor, o site:
http://www.mindandlife.org/conf04.html.

12ª Conferência do Instituto Mente e Vida (Mind and Life Institute)
12 a 22 de Outubro de 2004
Dharamsala, India

Resumo da abertura do encontro:
Neuroplasticidade: transformando a mente e mudando o cérebro
Richard J. Davidson

A neuroplasticidade refere-se a mudanças estruturais e funcionais ocorridas no cérebro devido aos efeitos do treinamento e da experiência. O cérebro é um órgão programado para mudar em resposta à experiência. Na última década, as pesquisas sobre a Neuroplasticidade na neurociência e na psicologia têm germinado e conduzido a conclusões sobre novas e diferentes maneiras como o cérebro, o comportamento e a experiência mudam em função da experiência.

Esta problemática básica sobre a plasticidade cerebral está sendo estudada em diferentes níveis, diferentes espécies e diferentes escalas de tempo. Até agora, toda a investigação chega, invariavelmente, à conclusão de que o cérebro não é estático. Pelo contrário, ele é dinâmico e variável e sofre mudanças durante toda uma vida de um indivíduo. Os cientistas presentes a este encontro representam os vários níveis de análise em que essas questões têm sido investigadas. As pesquisas sobre a plasticidade estrutural do cérebro revelam o modo como a composição real do cérebro adulto do mamífero está constantemente mudando, bem como os fatores que influenciam tais mudanças.
Outros estudos no nível molecular revelam como a química do DNA pode ser alterada pela experiência de modo a afetar a estrutura dos genes. Além disso, tal mudança na química do DNA pode ser produzida por experiências sociais que, por sua vez, modificam a expressão do gene de modo que as mudanças podem persistir por toda a vida. Esses resultados têm implicações radicais pelo fato de conceptualizar a interação dinâmica entre natureza e criação. No nível macro do sistema cerebral, será discutida a pesquisa que demonstra como as funções sensoriais, perceptivas e lingüísticas são modificadas pela experiência. E mais. Como os sistemas neurais que subjazem a esses comportamentos complexos são transformados por meio de alterações da experiência que ocorrem na primeira fase da vida.

A função emocional também é significativamente moldada pela experiência. As relações sociais do adulto são, em parte, também determinadas por experiências da primeira infância. Será discutido o modo como essas influências ocorrem, bem como os mecanismos cerebrais que estariam subjacentes a tais mudanças. Os indivíduos diferem em seu modo característico de reagir a situações emocionais. Tais diferenças individuais podem ser significativamente moldadas pela experiência e por determinados tipos de treinamento. O papel do treinamento contemplativo na transformação da mente emocional será examinado por alguns pesquisadores. Contudo, a questão mais importante a ser tratada durante o encontro será a natureza do treino mental e o seu impacto potencial sobre o cérebro e o comportamento.

O treinamento mental parece ser muito mais enfatizado nas tradições contemplativas orientais do que na tradição científica do ocidente. Outro assunto importante a ser considerado refere-se aos períodos mais favoráveis para se interferir na produção de mudanças plásticas do cérebro para promover o funcionamento saudável da estrutura cerebral. Finalmente, serão consideradas as implicações filosóficas deste domínio da ciência.

Richard J. Davidson, coordenador científico da 12ª Conferência do Mind and Life Institute, apresenta sucintamente os trabalhos e os objetivos da semana. Ele faz uma breve introdução das perspectivas adotadas pelos estudiosos sobre neuroplasticidade e exerce a função de moderador.

Download MLXII: Neuroplasticity Brochure PDF
Coordinador CientíficoRichard J. Davidson, Ph.D., Vilas Research Professor and William James Professor of Psychology and Psychiatry, University of Wisconsin-Madison
Participantes:Tenzin Gyatso, His Holiness, the XIVth Dalai Lama of TibetRichard J. Davidson, Ph.D., Vilas Research Professor and William James Professor of Psychology and Psychiatry, University of Wisconsin-MadisonR. Adam Engle, J.D., M.B.A., CEO and Chairman of the Mind and Life Institute, and General Coordinator of the Mind and Life conferencesFred H. Gage, Ph.D., Adler Professor, Laboratory of Genetics, The Salk Institute, San DiegoMichael J. Meaney, Ph.D., James McGill Professor, McGill University, MontrealKazuo Murakami, Ph.D., Emeritus Professor, Tsukuba University, Tsukuba, JapanyHelen J. Neville, Ph.D., The Robert and Beverly Lewis Endowed Chair, University of OregonMatthieu Ricard, Ph.D., Author and Buddhist monk at Shechen Monastery in Kathmandu and French interpreter since 1989 for His Holiness the Dalai LamaPhillip R. Shaver, Ph.D., Professor and Chair of the Department of Psychology, University of California, DavisEvan Thompson, Ph.D., Canada Research Chair in Cognitive Science and the Embodied Mind, York University, Toronto
InterpretersGeshe Thupten Jinpa, Ph.D., President and Chief Editor for The Classics of Tibet Series produced by the Institute of Tibetan Classics in MontrealB. Alan Wallace, Ph.D., President, The Santa Barbara Institute for Consciousness Studies

Resumo da primeira conferência:
Mudanças Estruturais no Cérebro Adulto Face à Experiência
Fred H. Gage


Para aqueles que como nós estudamos o sistema nervoso, o cérebro é o órgão do corpo que controla nosso comportamento. Essa crença significa que o que pensamos e o que fazemos resulta do processamento da informação feito pelo cérebro e dirige a ação, sob a influência das experiências vividas.

Devido a essa suposição básica, o modelo mais comum de analogia de como o cérebro funciona é o do computador. Embora essa analogia possa ter um valor heurístico, ela está provavelmente errada ou, pelo menos, apresenta muitas limitações. O cérebro é como outro órgão qualquer, como o fígado, o coração ou o rim: ele é feito de substâncias químicas, células e tecido. Funciona por intermédio de células individuais que se comunicam química e eletricamente. O real desafio dos neurônios no cérebro é calcular (interpretar) a informação transmitida temporal e espacialmente e enviar a mensagem interpretada para o próximo neurônio em um circuito de informação. O pensamento e o comportamento resultam da agregação desta informação que passa pelo circuito neural e que é processada. Um dos argumentos principais a favor da analogia do cérebro como uma máquina estável ou computador era o de que tal analogia ajudava a explicar como nós podemos nos lembrar de coisas em instâncias diversas. Como isso é possível se a estrutura subjacente do cérebro estava mudando continuamente?
No que se refere ao assunto, se o cérebro é o centro da consciência (F. Crick), como é possível manter uma auto-identidade se o cérebro não é estável? No entanto, aprendemos que o cérebro é fisicamente instável. Isso é provavelmente uma boa coisa. A instabilidade estrutural, documentada no cérebro, pode ser necessária para se prover a capacidade extra de se lidar com a complexidade. Além disso, a instabilidade dá suporte à adaptação e à flexibilidade ou à “plasticidade” (na nomenclatura dos neurocientistas) necessárias para se lidar com os múltiplos desafios enfrentados no decorrer de toda a vida.
Resumirei, nesta apresentação, nosso entendimento atual sobre a plasticidade estrutural que persiste no cérebro do mamífero adulto e discutirei as experiências, o padrão comportamental, e as drogas que podem mudar nosso cérebro e, portanto, nosso comportamento.

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