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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Alquimia: uma introdução

Alquimia – uma Introdução


Cirlene Magalhães

Quando comecei a me interessar pela Alquimia, indagava-me freqüentemente sobre os fundamentos desse pilar fundamental da Tradição Hermética, ao lado da Kabbalah e da Astrologia. Alguns questionamentos surgiram em minha mente: O que é a Alquimia? Quais são os segredos e o cerne dessa doutrina hermética? Qual o conhecimento secreto que se encontra codificado nos símbolos obscuros e nas alegorias da linguagem cifrada dos alquimistas? A Alquimia é um conhecimento tangível? É uma arte milenar? Ou simplesmente um conhecimento filosófico? Que tipo de trabalho e de experimentos os alquimistas desenvolvem em seus laboratórios e por quê? Nós podemos replicá-los em nossa própria casa? Que conseqüências esse tipo de trabalho acarreta em nós? O que alcançamos com essa prática?

Todas essas perguntas eu as fiz na solidão de meu quarto, entre uma leitura e outra, a procura de respostas satisfatórias para tão enigmático conhecimento. Para algumas questões, eu encontrei respostas. Para outras, ainda não. Provavelmente, o mesmo ocorre com vocês. A conclusão a que cheguei é que essa profunda filosofia, conhecida como Filosofia Hermética fundamenta os mistérios da criação e do ser e constitui a base de todas as religiões, filosofias e psicologias.

Minha primeira experiência com a Alquimia ocorreu quando era ainda criança, com seis a sete anos. Como gostava de brincar com formigas e tanajuras, peguei uma formiga e coloquei-a no congelador, como brincadeira, para ver se ela agüentaria a baixa temperatura. Esqueci-me da formiga. Depois de várias horas, coloquei-a ao sol. Qual não foi a minha surpresa ao vê-la mexer-se e depois sair andando. Fiquei maravilhada com o mistério da vida! Depois, foram necessários muitos anos para eu retomar esse interesse primordial da infância sobre a energia da vida e as transformações na natureza.

Para que vocês possam melhor seguir minha exposição, farei breve introdução à temática, bem como a sua utilização no mundo moderno. Então vamos lá! Vale salientar que, para os filósofos alquimistas, a Alquimia é a ciência de Deus. É a lei do universo. Vocês já devem ter ouvido a expressão “Deus é o Grande Arquiteto”. Pois foram os alquimistas que cunharam essa expressão. Eles também afirmam que o corpo de Deus é o universo e que o universo constitui seu laboratório. Assim, a função do alquimista é centrar-se na consciência do princípio criativo divino de modo a compreender o universo e toda a sua diversidade como um processo maior e mais abrangente. Tendo esse princípio divino criativo em mente, os alquimistas o consideram como um processo de elevação da vibração energética do ser, ao transformar algo mais denso e menos valioso em algo superior e elevado, em qualquer nível da criação. Isso é obtido através da purificação de qualquer entidade, seja ela do plano físico, que denominamos plano tangível, seja do plano espiritual intangível. Em outras palavras, a Alquimia é a transmutação de algo inferior em algo superior. Ela é a arte de manipulação das energias da vida. Ela é uma arte e, como tal, constitui o segredo da purificação e da elevação do corpo, alma e espírito de toda e qualquer substância dos três reinos da natureza, seja ela do reino mineral, vegetal ou animal. Alquimia é, em síntese, o processo de transformar as substâncias em seu estado natural e comum ao seu estado de perfeição imanente.

A palavra Alquimia é derivada do artigo árabe Al e de Kherm, cujo significado é "terra preta" do Egito às margens do Nilo .Há, ainda o significado do radical grego Khermy . que significa transmutação, ou seja, a fusão,transformação dos metais de um em outro. O vocábulo resultante Al- Khemia refere-se a um paradigma místico e cultural anterior, relativamente à investigação e à compreensão das leis e das forças da natureza. Nesse paradigma anterior, vigente no Antigo Egito, na Pérsia, na Mesopotâmia, na Índia, na China e, praticamente em quase todos os povos da Antiguidade, o conhecimento técnico, o transcendental e o espiritual estavam imbricados. Conseqüentemente, a Alquimia fazia parte da vida e da sociedade. No paradigma atual, há sinalização de início de mudança, com o crescente aumento de consciência filosófica e espiritual. Em vista dessa pequena abertura, há maior aceitação das terapias holísticas e da medicina vibracional. Há, assim, abertura para se questionar a dualidade corpo/mente na ciência, com a incipiente aceitação da mecânica quântica e de seus princípios como o da Não Localidade, o da Indeterminação, o da Dualidade Onda Partícula, dentre outros que serão vistos em outra ocasião.

A Alquimia sempre foi vista mais como arte do que propriamente como uma ciência. De fato, ela abarca elementos de ciências diversas como química, física, metalurgia, medicina, astrologia, farmacologia, semiótica, misticismo. No entanto, ela se mantém distinta devido ao seu caráter transcendental e mágico. Foi praticada em todo o mundo, há milênios, em especial na Mesopotâmia, no Antigo Egito, na Pérsia, na Índia, na Antiga Grécia, em Roma e na Europa, por meio de uma complexa rede de escolas e sistemas filosóficos.


Certamente, vocês já ouviram falar da aproximação da Alquimia com a química. Entretanto, em sua essência, elas são diversas. Os alquimistas utilizaram metáforas e termos da química para afastarem governantes e pessoas ambiciosas que procuravam os conhecimentos alquímicos somente para benefício próprio, pensando que poderiam transformar chumbo em ouro ou que poderiam produzir o Elixir da Vida. Alguns alquimistas relatam ter conseguido tal feito, ao “apressar” o trabalho da Natureza que leva milênios para transmutar naturalmente elementos, através de operações alquímicas. Entretanto, ao alquimista são exigidas condições raras de elevação energética e de altíssimo nível de consciência para transmutar elementos. Somente verdadeiros alquimistas dominam o entendimento e a integração com o “espírito” dos elementos da natureza (fogo, água, terra, ar) e conseguem, por meio da interação com eles, transmutar elementos.

Na realidade, é muito nítida a diferença entre alquimia e química. O químico só vê os produtos químicos e suas combinações para formar outros produtos químicos. Ele não considera um ser com energia e vida a matéria com a qual trabalha (nos reinos mineral, vegetal e animal). Nem tão pouco ele leva em consideração o aspecto da consciência do ser, mesmo que em estágios rudimentares. Pelo contrário, para o alquimista tudo é Vida! Ele vê o ser universal em todas as coisas e usa as forças da vida em suas operações. Assim, ao trabalhar com a matéria, o alquimista purifica e combina as energias da vida, da alma e do espírito, a fim de conseguir a forma de energia mais nobre e mais elevada da vida. Nesse sentido, a operação alquímica é um triplo trabalho realizado sobre os corpos, uma vez que os efeitos são de regeneração, de purificação e de evolução. A verdadeira diferença entre alquimia e química é que, na primeira, os alquimistas, ao lidar com a matéria, levam em conta a alma, o espírito e a consciência. O elemento consciencial só recentemente surgiu na ciência, com o advento da nova física quântica. Começou-se a ser percebido o papel do observador na interação com os elementos do experimento. Esse fato ocasionou a conseqüente postulação do Princípio da Incerteza e a Teoria das Partículas Virtuais. A química, por sua vez, apenas lida com a matéria bruta e inerte, sem imanência.

Recentemente, entrei em contato com um grupo de estudos alquímicos e conheci a obra de William Dennis Hauck Sem dúvida alguma, como bem lembra esse alquimista moderno ligado às tradições egípcias, hoje em dia, há uma ampla variedade de aplicações modernas dessa concepção. A razão atual para o estudo da alquimia é a de se conectar novamente com as realidades espirituais fundamentais do universo, ante a aridez do materialismo e da tecnologia. Na abordagem alquímica, o ouro do alquimista não é o ouro comum, mas um ouro espiritual interior. Nesse sentido, as operações de alquimia são realizadas no laboratório interno do espírito e da alma e não em laboratórios recônditos e camuflados.


Compartilho com vocês o que aprendi sobre a Alquimia no mundo moderno. Segundo Hauck, a transformação para melhorar seres, pessoas e situações alcança todas as áreas da atuação humana. Vejamos algumas: (1) transformação pessoal com o aumento de níveis de consciência e de atitudes mais amorosas e éticas; (2) psicologia alquímica: na tradição de Jung, tratam-se os problemas psicológicos tanto como desequilíbrios químicos do corpo como distúrbios de caráter; (3) artes e literatura: a magia da alquimia está por trás do impulso do artista de criar; (4) filmes e jogos: uso consciente da alquimia pelos autores em filmes, como, por exemplo, "2001", "O Quinto Elemento", "The Matrix", "Harry Potter"; (5) negócios ganham novos impulsos com o poder do paradigma universal da Alquimia a fim de dinamizar empresas e produtos; (6) governo: a alquimia fornece métodos eficazes de dissolução das estruturas ultrapassadas e construção de novos paradigmas modernos e produtivos, em benefício de todos; (7) medicina energética ou holística: os alquimistas foram os primeiros médicos a prescrever medicamentos, sendo que sempre forneceram remédios naturais, ervas e compostos minerais para curar uma ampla variedade de doenças físicas e psíquicas. (8)terapias alternativas: a maioria das terapias corporais como a quiropraxia, rolfing, Feldenkrais, a bioenergética e terapia da polaridade têm sua origem no trabalho dos alquimistas século XIX, e antes deles, nos princípios alquímicos egípcios milenares contidos na Pedrade Esmeralda, passando pelas artes alquímicas orientais como ioga, aikido, kung tai chi, chi, tantra, acupuntura chinesa e egípcia e reiki, chegando-se até modernas disciplinas holísticas, como homeopatia, naturopatia, ayurveda, medicina chinesa, a aromaterapia, reflexologia, dentre outras; (9) alquimia prática: produção de tinturas, tônicos, óleos, compostos, e elixires que capturam a energia de cura e que está sendo realizada por cada vez mais profissionais ao redor do mundo; (10) ciência: para oDr. Fred Wolf, a Física Quântica é a "Nova Alquimia". Ambas compartilham muitos princípios fundamentais, incluindo a idéia de que a consciência é uma força da natureza. Além disso, a Alquimia teve e continua a ter influência na origem e no desenvolvimento de outras ciências como a geologia, a botânica, a biologia, e é claro, da química; (11) religião: a tarefa básica do alquimista é centrar-se na consciência da presença divina criativa nos seres. O homem, ao ultrapassar seu limite mundano e iniciar o caminho da mística, ele salta para além de si e, humildemente, presta-se a ajudar na obra de Deus, que é a Grande Obra do Universo; (12)organizações fraternais: a Alquimia e artes herméticas, bem como outras práticas relacionadas a ela como a Kabballah e o Tarô, têm uma longa tradição secreta, que perdura nas organizações contemporâneas, como a Maçonaria, a Golden Dawn, os Rosa-cruzes, os gnósticos, as escolas de mistérios e muitos outros grupos; (13) alquimia social: ela ocorre quando movimentos motivados pelo desejo humano de mudar as condições sociais adversas e de transformar a escravidão em liberdade, a pobreza em riqueza, o medo em coragem, guerra em paz, o totalitarismo em democracia. Evidência da alquimia social são as recentes guerras civis no Oriente Médio, em especial no Egito, com as decorrentes mudanças que começarão a ocorrer; (14) vida cotidiana: cada um de nós participa na alquimia, quer de forma consciente (por meio da transformação intencional e manifestando-se da própria natureza superior) ou por meio do tumulto e do sofrimento de experiências mundanas que, finalmente, levarão a uma maior sensibilização dos princípios da alquimia no trabalho no mundo.

Os alquimistas da tradição nos legaram uma tecnologia espiritual incrível que funciona em todos os níveis de realidade ao mesmo tempo. Trata-se, na realidade de uma poderosa ciência da alma. Seus princípios são tão válidos no mundo natural, como o são nos domínios da mente e do espírito. Assim, os praticantes da Alquimia têm os instrumentos para serem co-participantes da criação. Isso acarreta responsabilidade e compromisso que só uma alma evoluída é capaz de assumir.

Vamos começar a nossa grande obra pela transmutação de nós mesmos, por meio da Alquimia interior? Como? Perguntarão vocês. Por meio da meditação para elevar a nossa freqüência vibratória e nos aproximarmos de nossos anjos guardiães. Por meio da assepsia de pensamentos, de palavras e de ações. Enfim, por meio do equilíbrio físico, mental e espiritual, para que consigamos sair das polaridades e sejamos capazes de transmutar emoções densas em sentimentos puros de amor e de doação.

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2 comentários:

léo disse...

Cirlene. Muito obrigado pelos textos maravilhosos que tenho lido. Sempre li filosofia e literatura, mas nunca me aproximei das tradições herméticas. Obrigado pela luz. Paz e amor, força e prosperidade para você (estive em sua casa com a Ana, sua filha, seu genro e minha esposa,há algum tempo. Não sei se você se lembra de mim).

Cirlene Magalhaes disse...

Estimado Léo,

É claro que eu me lembro de você e de sua esposa. Que bom que tenha se interessado pela tradição hermética. Você vai se surpreender com a riqueza que os conhecimentos da tradição nos fornecem.
Abraço amigo,
Cirlene